Trabalhadores do BCP manifestam-se contra "estagnação remuneratória"
Os trabalhadores do BCP manifestam-se no dia 22 em frente às instalações do banco no Taguspark, em Oeiras, contra a "estagnação remuneratória" e exigindo a devolução "na íntegra" dos cortes salariais de 2014 a 2017, anunciou hoje fonte sindical.
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Economia Oeiras
Em comunicado, a União dos Sindicatos Independentes (USI) manifesta o seu apoio a esta manifestação, que diz ser organizada pelos sindicatos Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) e Independente da Banca (SIB), seus filiados, e ainda pelo Sindicato dos Bancários do Norte (SBN), e que coincide com a assembleia-geral anual de acionistas do BCP.
"Não pode a USI deixar desde já de manifestar o seu mais firme apoio a esta manifestação de indignação a levar a efeito pelos trabalhadores daquela instituição bancária, na defesa dos seus mais justos direitos e na forma de os conseguir", sustenta.
Em causa estão as atualizações salariais para os trabalhadores no ativo e os acréscimos das pensões para os trabalhadores reformados, com a União de Sindicatos Independentes a acusar a administração do BCP de "desprezo da boa-fé negocial" e de pôr em causa a contratação coletiva.
Salientando que foi graças aos seus trabalhadores que o BCP "passou de uma situação precária de sustentabilidade para a apresentação de resultados positivos", a USI diz que "não é admissível que a primeira preocupação a ter por parte dos órgãos de gestão, mal o quase afogado consegue vir à tona de água e respirar, seja manter a estagnação remuneratória e distribuir o positivo dos resultados atribuindo dividendos aos acionistas, como se só fosse de atender e privilegiar em exclusivo o capital".
Na quinta-feira passada, durante a apresentação dos resultados do primeiro trimestre do BCP, o presidente do banco considerou que a proposta de compensação aos trabalhadores pelos anos de cortes salariais, de 12,6 milhões de euros, é "mais generosa" do que a proposta de dividendos aos acionistas.
"Na proposta de dividendo aos acionistas versus a proposta de compensação aos trabalhadores, é mais generosa a compensação aos trabalhadores", disse Miguel Maya, justificando que aos acionistas a administração está a propor a distribuição de cerca de 30 milhões de euros, o que é um dividendo correspondente a cerca de 10% do resultado de 2018 (301,1 milhões de euros), enquanto para os trabalhadores está a propor 12,6 milhões de euros.
"Dos valores que os colaboradores deixaram de receber, que não é uma devolução é uma compensação, o que estamos a propor à assembleia-geral é equivalente a um terço desse valor", afirmou, acrescentando que quer devolver o restante aos trabalhadores até ao final do seu atual mandato, em 2021.
Para a USI, contudo, "as atitudes da gestão do Millennium BCP são um atentado à dignidade humana, ao respeito que tem de merecer cada trabalhador e uma ofensa à dedicação e empenho diário tido por cada um e por todos os trabalhadores", reivindicando que "os cortes salariais de 2014 a 2017 têm de ser devolvidos na íntegra" aos funcionários, que "já não têm aumentos salariais desde 2010".
A USI destaca que "o Millennium BCP viu crescer a sua rentabilidade, num ano, em 79,7%, passando de um resultado líquido consolidado no primeiro trimestre de 2018 de 85,6 milhões de euros para 153,8 milhões de euros no primeiro trimestre de 2019", enquanto o volume de negócios consolidado "cresceu 4,1%, de 122,6 mil milhões de euros para 126,7 mil milhões de euros".
"O Millennium BCP teve um aumento de 326 mil clientes ativos em todo o grupo num ano, de março de 2018 a março de 2019", e "autoapresenta-se como um dos bancos mais eficientes da zona euro", argumenta a estrutura sindical, reiterando que "os resultados positivos e a recuperação após a crise financeira e bancária só foram possíveis muito por fruto da abnegação, dedicação e profissionalismo dos seus trabalhadores".
Questionando "como pode a gestão do Millennium BCP furtar-se ao diálogo e à concertação com os sindicatos", a USI recorda que as negociações do acordo coletivo de trabalho (ACT) de 2018 "vieram a cair num impasse, estando em sede de conciliação no Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social", e exorta a Comissão Executiva do BCP a convocar os sindicatos para, "com humildade e espírito de diálogo", concluir as negociações de um ACT "digno do esforço e da produtividade dos trabalhadores".
Sobre a revisão do acordo de empresa, Miguel Maya não adiantou, na quinta-feira, detalhes, dizendo apenas que o processo decorre.
Entre meados de 2014 e meados de 2017, os trabalhadores do BCP com remunerações acima de 1.000 euros brutos mensais tiveram os salários cortados (entre 3% e 11%), no âmbito do plano de reestruturação acordado com Bruxelas que se seguiu à ajuda estatal (de 3.000 milhões de euros) e que implicou também o fecho de balcões e a saída de milhares de trabalhadores em programas de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo.
Os cortes salariais acabaram em julho de 2017, tendo então o banco dito que permitiram salvar 400 postos de trabalho.
O BCP tinha 7.262 trabalhadores em Portugal no final de março.
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